quinta-feira, 28 de agosto de 2014

PT demoniza relação de Marina com bancos, mas e o governo Lula?

 


Jornal GGN - Roldão de Arruda, em artigo publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo, traça um paralelo entre Marina Silva e Luiz Inácio Lula da Silva no que tange a aproximação com banqueiros ou herdeiros de grande empresas do capital financeiro. Para ele, Lula e Henrique Meirelles foi um indício de que o elo pode funcionar, como ocorreu no Banco Central. Falta à Marina explicar, no caso, como seria com Maria Alice Setúbal, herdeira do Itaú, em um possível governo do PSB.
 
Por Roldão Arruda, no Estadão
Lula também se aproximou de banqueiros. O que falta aos defensores de Dilma é esclarecer quais são as diferenças entre as propostas dela e as de Marina em relação aos bancos
A amizade de Marina Silva com Maria Alice Setubal, mais conhecida como Neca, tem provocado críticas de tom quase apocalíptico entre simpatizantes de outras candidaturas. Elas relacionam a presença da herdeira do Banco Itaú na campanha a um crescimento desmedido do poder do capital financeiro no governo, em caso de vitória da candidata do PSB.
A maior parte das críticas vem de petistas, o que me faz pensar em como o partido trata os banqueiros desde sua ascensão ao poder. Lembro de imediato da composição do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato. Um dos primeiros nomes a serem definidos foi o de Henrique Meirelles, ex-executivo do Bank of Boston.
Lula entregou a ele o Banco Central. E deu carta branca. Correu tudo tão bem, o azul no balanço dos bancos ficou tão reluzente, que agora é comum ouvir, entre porta-vozes da capital financeiro, que foi o melhor período de todos os anos do PT no poder.
Lembro também de uma campanha, um interminável plantão de reportagem que cumpri diante da imponente entrada de carros de um condomínio na região dos Jardins. Lá em cima, na biblioteca do apartamento do empresário Ivoncy Ioschpe, Lula conversava com alguns dos mais poderosos empresários e executivos do País.
Era agosto de 2005 e o governo atravessava a sua primeira grande crise. A conversava ia e vinha entre o chamado mensalão e um novo escândalo envolvendo o nome do ministro da Fazenda, Antonio Palocci – um ex-trotskista que havia adquirido enorme habilidade no trato com os banqueiros.
Lula foi uma das últimas pessoas a deixar o edifício. Nem olhou para os repórteres. Soube-se mais tarde, por relato dos convidados, que um de seus principais interlocutores na noite foi Paulo Setubal, também ligado à família que controla o Itaú.
Lembro, para finalizar, do informe do Banco Santander que apontou a presidente Dilma como responsável pela piora no quadro econômico do País. Os petistas reagiram com justa indignação. Os tucanos teriam feito o mesmo se algum analista do mercado financeiro tivesse enfiado na correspondência dos seus correntistas qualquer informação que pusesse em dúvida a capacidade de Aécio Neves para dirigir a economia brasileira.
O detalhe que chamou minha atenção no episódio foi a maneira como o presidente Lula reagiu. Ao dizer que o informe não podia ser atribuído ao espanhol Emilio Botin, presidente do quarto maior banco do mundo em termos de lucros, procurou demonstrar certa intimidade com o banqueiro, chamando-o em mais de um momento pelo nome, como se fossem amigos. “Não foi o Botin que escreveu isso”, afirmou.
Nesse cenário, no qual dois políticos que vieram das camadas mais populares do País mostram intimidade com filhos ou representantes da elite financeira, o que pode contribuir para melhorar o debate e esclarecer o leitor não é nenhum tipo de demonização de pessoas, mas sim a análise e a comparação daquilo que propõem e fazem.
Em relação aos bancos, quais são as diferenças substanciais entre as propostas feitas por Dilma e Marina na campanha? Quais as diferenças básicas no pensamento dos economistas que assessoram as duas equipes? O que diferencia as ações de Meirelles daquilo que Marina pretende fazer?
Marina vai defender a autonomia do Banco Central garantida em lei – uma ideia que ela não aceitava até recentemente. O que tal iniciativa muda na vida dos cidadãos? O que a Dilma vai fazer em relação a isso? Qual das duas vai manter as taxas de juros nos patamares atuais? Quem vai rebaixá-las?
Se Dilma tem uma proposta que favorece menos o capital financeiro e acha isso importante, ela que trate de explicitar a diferença nos debates com Marina e Aécio.

Um comentário:

Na Ilharga disse...

Esse artigo é bundão, mentiroso e calhorda. Só um canalha, fazendo-se passar por distraído, é capaz desse cinismo, "E Dilma, o que vai fazer para baixar a taxa de juros?" Claro que o sacripanta escrevinhador sabe que historicamente a taxa de juros no Brasil sempre esteve acima dos 20%, chegando até a 45%, nos tempos do ladravaz FHC, e foi o governo petista que baixou esse patamar para a faixa dos 11%, e com oscilações para baixo, mesmo com um banqueiro à frente do BC. Ainda assim, reconheçamos, os bancos ganham muito e reclamam mais ainda, exatamente porque não são idiotas como o escrevinhador desse texto merda, e sabem que a conjuntura política permite que se apoie uma candidatura que fará retornar aos tempos de Selic superior aos 20%, o que diminuirá investimentos, causará desemprego, risco de inflação e o consequente aumento do rentismo.
Quanto à independência do Banco central, só um salafrário confunde as propostas. Os banqueiros passaram boa parte do governo Lula e uma parte do governo Dilma tentando aprovar essa medida. Até projeto em tramitação no Congresso há e nunca foi aprovado porque claramente não é essa a postura petista, tanto que começou com um banqueiro à frente do BC, claramente para manter um diálogo com esse setor politicamente poderosíssimo, mas depois evoluiu e hoje tem um funcionário de carreira à frente da instituição. Afirmar que tanto faz isso quanto entregar esse comando a Neca Setúbal dá no mesmo só pode partir de um reles viralata dissimulado e ávido pela volta aos tempos de Brasil devedor do FMI.