domingo, 28 de setembro de 2014

Entrevista com Cleber Rabelo - "O cenário é de muita incerteza. Há uma falsa polarização entre Dilma x Marina e Helder x Jatene e muita frieza por parte do eleitorado"

Ananindeuadebates - Vereador Cleber Rabelo,  o senhor é um dos líderes dos trabalhadores da construção civil, a categoria realizou 14 dias de greve  em setembro. Por que os trabalhadores foram à greve?

Cleber Rabelo - Fomos à greve porque os empresários da construção civil do Pará, representados pelo SINDUSCON (Sindicato Patronal) se negou e apresentar uma proposta digna de reajuste salarial e demais cláusulas constantes em nosso Acordo Coletivo de trabalho. Para você ter ideia, a primeira proposta do na mesa de negociação SINDUSCON foi de reajuste de 6,5% e nada mais. Nós exigimos 18% e 100,00 de cesta básica. Depois de dois fortes dias de paralisação, os empresários apresentaram uma proposta de 7% de reajuste no salário e mais 30,00 reais de cesta básica, aumentada no dia seguinte para 40,00 reais, mas com rígidos critérios para que os trabalhadores tivesse de fato o ganho. Pela proposta do empresários, se o operário que faltasse de forma justificada e apresentasse atestado médico ainda assim esse operário perderia o direito a cesta básica no final do mês. Nós então sinalizamos com uma outra proposta de 10% no salário e fechamos em 40,00 de cesta básica. Eles, de forma intransigente, se negaram a seguir nas negociações e não nos restou outro caminho senão a greve. Além da intransigência, o SINDUSCON demonstrou toda sua crueldade e mesquinharia com os trabalhadores. O nosso sindicato conseguiu fechar com 6 empresas de pequeno e médio porte o acordo de 10% de reajuste salarial além da cesta básica não condicionada a critério nenhum para seu recebimento. Se empresas pequenas e médias podem pagar 10%, por que as grandes empresas que se organizam e hegemonizam o SINDUSCON não podem? Não há explicação. É ganância, intransigência e ódio de classe mesmo, dos empresários contra os trabalhadores.

AD - Qual foi a principal conquista da greve?

CR - Sem dúvida que foi a cesta básica. Nós lutamos por 5 anos seguidos pelo direito a cesta básica, que já é uma
realidade em vários estados e mesmo municípios do Pará, como Paragominas e Altamira. Em Belém, Ananindeua e Marituba nós não tínhamos. Foi fruto de muita luta, muito debate, muita solidariedade de outras categorias, muita paralisação e muita greve. Conquistamos uma nova cláusula em nosso acordo coletivo de trabalho. Isto é fantástico. é difícil nós vermos isso acontecer nas greves de outras categorias que ocorreram no último período. Mas além disso, conseguimos derrotar a proposta absurda deles de querer impedir o recebimento da cesta básica em caso de falta justificada, medida completamente abusiva.

AD - O sr. foi eleito vereador de Belém, com votos dos trabalhadores da construção civil, e  hoje é candidato a deputado federal. O Senhor acredita que a categoria tenha força para eleger um deputado federal?

CR - Tem sim. Além de bastante numerosa, a categoria dos trabalhadores da construção civil tem força política, podem conquistar muitos votos para além da nossa categoria. Em qualquer bairro que você ande você encontrará alguém que trabalhe ou já trabalhou na construção civil. Mas nossa candidatura também tem recebido apoio de trabalhadores em educação, de trabalhadores rurais, de bancários, urbanitários, trabalhadores dos correios, servidores públicos de todas as esferas, estudantes, etc. O mais importante, porém, em nossa participação nas eleições é a divulgação de nosso programa socialista, o diálogo com as pessoas e o fortalecimento da organização e da luta direta da classe trabalhadora. Nossa campanha eleitoral está a serviço, ante de tudo, dessa estratégia.  Não compramos votos e nem trocamos nossas ideias por votos. O voto é consequência de um trabalho político que desenvolvemos no cotidiano das lutas e que tem como objetivo a disputa da consciência dos trabalhadores para um projeto de sociedade alternativo, o socialismo. 

AD - Como o Senhor  avalia o quadro eleitoral no Pará, e no Brasil?

Zé Maria de Almeida Candidato a presidente da República pelo PSTU
CR - O cenário é de muita incerteza. Há uma falsa polarização entre Dilma x Marina e Helder x Jatene  e muita frieza por parte do eleitorado. Digo falsa polarização porque eles, em essência, são todos iguais em seus programas de governo e em sua prática política, isto é, tem alianças políticas e financeiras umbilicais com a burguesia e não se propõe a questionar e a mudar radicalmente o sistema político, a política econômica e as leis em nosso país. A frieza e a descrença da maior parte do eleitorado se expressa na falta de empolgação das pessoas com o processo eleitoral, na intenção maior das pessoas de votar nulo ou branco ou se abster ou mesmo de votar nos partidos da esquerda socialista, que eu acredito que vai ter um crescimento eleitoral. Essa situação deve-se à nova situação política aberta em junho de 2013 de grandes mobilizações e questionamento generalizado ao sistema político brasileiro. A nossa  campanha junto com a do  companheiro Zé Maria  candidato presidência  pelo PSTU, busca dialogar com esse sentimento que é justo e corretíssimo e a partir das necessidades mais sentidas da classe trabalhadora apresentar um programa de ruptura com o grande capital e de transição socialista.



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