quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Artigo: Marina e Max Weber em: a “Ética” Protestante e o Espirito do Capitalismo Exacerbado.




Artigo de Marco Cordovil (foto) Analista de Sistemas- EMATER-PA

"Onde estará o “princípio da imparcialidade em assunto religioso” , quando uma possível gestora da nação, segundo ela mesma, costuma amiúde consultar a Bíblia antes de qualquer decisão, à luz de sua “divina” interpretação e rotula  os orixás (deuses do candomblé)  de anjos do satanás , seguindo a linha de raciocínio  de um dos seus principais mentores  o pastor Malafaia ?"  


O Brasil entrará para o rol dos países capitalistas exacerbados  dentro de uma “ética” protestante e deixará o rigor do laicismo  num eventual governo de Marina Silva.
À beira de uma possível governanta evangélica ressurge uma teoria muito bem argumentada de Max weber (um dos fundadores da sociologia da era moderna) em seu livro “A Ética  Protestante e o Espirito do Capitalismo“, onde o pensador destaca o protestantismo como  umas das principais causa do nascimento do capitalismo.
    Weber incisivamente aponta através de vários estudos que o capitalismo alastrou-se em países onde se difundiu o protestantismo: “O trabalho é uma vocação divina, a finalidade da vida” , enfatizava Weber em seu livro esta máxima do protestantismo delineando-se como a ideia central de suas premissas teóricas e destaca-se o dever profissional caracterizado como a "ética social" da cultura capitalista.
Mas a “Ética” protestante com o passar dos tempos mudou, e mudou radicalmente de tal forma que já não sabemos ter esta ética como base, a moral enquanto conjuntos de preceitos e costumes de uma sociedade. “premissas de costumes  O cumprimento das tarefas seculares sob quaisquer circunstâncias é o único caminho para satisfazer a Deus, que isto, somente isto, é a vontade de Deus, e que, por isso qualquer vocação lícita tem o mesmo valor perante os olhos de Deus(WEBER, 2001, p.44); eis o que era a ética para Weber no bojo de seus dois artigos que compõe seu livro, antes da era dos pastores eletrônicos e suas diversas redes de televisão pelo mundo afora.
A ética, lastro da postura luterana como base do crescimento capitalista, começa a denegrir-se  com o que conhecemos por  “Estado Laico”,  onde um país adquire uma posição neutra relativo a princípios religiosos e como consequência não deve apoiar ou discriminar qualquer religião ou manifesto religioso devendo ser totalmente imparcial. Mas, não obstante a este princípio, creio que um “Estado Protestante”, de certa fora me dá arrepios num cenário hoje em que o Brasil vive essa avalanche evangélica com seus suntuosos “Templos de Salomão” e suas inumeráveis maquininhas de cartão de crédito a pedir o dízimo  - que passará dos 10% dos salários dos incautos, caso o fiel atrase fatura do pagamento.
As implicâncias serão deveras em todo âmbito sócio-religioso numa liderança evangélica e num atual crescente congresso luterano. Causas justas e dignas já avançadas em ganhos sociais através de lutas seculares por uma nova versão da humanidade encontrarão barreiras políticas. Promiscuirão cinismos em nome do “Senhor” - pobre Jesus – onde “religiões de demônios“  como umbanda, candomblé, espiritismo e outras similares serão alvos de falsos moralistas. A discriminação relativa aos umbandistas remonta aos tempos das senzalas, épocas onde o negro (para o branco) sequer tinha alma, e seus orixás, óbvio, só poderiam ser parte do satã.  Onde estará o “princípio da imparcialidade em assunto religioso” , quando uma possível gestora da nação, segundo ela mesma, costuma amiúde consultar a Bíblia antes de qualquer decisão, à luz de sua “divina” interpretação e rotula  os orixás (deuses do candomblé)  de anjos do satanás , seguindo a linha de raciocínio  de um dos seus principais mentores  o pastor Malafaia ?  
O que esperar dos direitos humanos quando instituições que deveriam ser sérias como por exemplo a Comissão de Direitos Humanos e Minorias” (CDHM)  da Câmara dos Deputados, presidida por um deputado  Marco Feliciano , pastor homofóbico da pior espécie (PSC-SP), extirpou o que é de direito humano, quando destacou  o projeto que determina que as igrejas possam se recusar a realizar casamentos de pessoas do mesmo sexo porque violam seus “valores, doutrinas ou crenças“  dentro de seus próprios conceitos discriminatórios. Este projeto, segundo me consta, seria estendido também a rejeitar aqueles que desrespeitam o ambiente religioso isto dentro de um estado que apregoa teoricamente  a imparcialidade em assuntos religiosos. A ética desde os primórdios baseia-se na moral, este cristalizando-se em valores e costumes sociais, mas, a despeito do mesmo,  Marina Silva, quando questionada  em programa jornalístico da Globo, a respeito do seu programa de governo homofóbico,  não apenas foi antiética como saiu-se também pela tangente quase que literalmente, tocando apenas em um ponto: sou a favor da união civil , casamento não. Os dois pontos para elas são auto excludentes; na verdade, orientada por Malafaia, tentou agradar a gregos e troianos; ou seja, evangélicos puritanos e  os homossexuais.
Espera-se, além desses anacronismos sociais, um espetacular capitalismo exacerbado,  já preconizado nos estudos weberianos;  assim,  temo,  que logrem  proveitos de quaisquer políticas públicas sociais já implantadas em governos anteriores, algo similar a dízimos para se “ganhar o céu”.  O fato que me apavora  é que cientificamente Max Weber   está certo; o tempo presente , o nosso eterno tempo presente , está corroborando suas assertivas do seu livro. Weber cita: “o fato que os homens de negócios e donos do capital, assim como os trabalhadores mais especializados e o pessoal mais habilitado técnica e comercialmente das  modernas empresas é predominantemente protestante.” , este fato vem se consolidando cada vez mais. Donos de redes de comunicação entre países capitalistas estão aí aos montes, difundindo cada vez mais o “trabalho divino vocacional”, valendo-se ressaltar  que  os dois artigos que compõe este livro são datados de 1904. Weber além de sociólogo, era a meu ver, um profeta, e dos grandes, deixando-se invejar por outros pensadores que se tornaram anacrônicos dentro de uma sociedade da “era da informação” e suas redes sociais. Quem poderia dizer que sem o uso extremo da “mais valia” Mark Zuckerberg ficaria Bilionário em curtíssimo espaço de tempo, somente exibindo, como ele mesmo diria “Os peitões das estudantes de Harvard”, criando assim o seu Facebook.
Mas no tange a ética deste tipo de capitalismo que vem insurgindo como um dos prováveis futuros de deste país - mesclado em todos os sentidos -,  eu não a vejo como moral em  dízimos vultosos construindo templo milionários em “nome do senhor” ; não vejo ética em promessas fantasiosas incrustando o  medo do capeta no fiel.  Lutero se voltasse  hoje e visitasse o “Templo do Edir Macedo Salomão ” de  680 milhões de reais, com certeza pregaria em suas caríssimas portas, novamente as suas 95 teses contra as neo-indulgências da “salvação” como assim o fez em 1517 na igreja de Wittemberg contra abusos capitais da igreja católica.
E por falar em cifras, vejo como pertinente, pensar e repensar sobejamente com extrema cautela e complexidade que o assunto exige, para nós, maioria, humildes simplórios brasileiros, que precariamente  entendemos de macroeconomia, e, sem querer me entrosar tecnicamente em  assunto desta natureza e já entrosando-me em pavor (junto com alguns mais notáveis economistas do país)  - desejaria saber  o porquê que  um Governo Marina se assim estabelecido, deseja  ter um Banco Central independente , à maneira do Estados Unidos  - país evangélico  - ? Uma coisa é certa e histórica; enquanto brasileiros que somos, não temos mais vocações para ter mudanças abruptas no diz respeito à economia, vale lembrar o transtorno que o seqüestro da poupança na era Collor provocou no país.
É difícil saber os meandros  que uma economia arraigava que um governo luterano pode tomar, mas já que estamos  à beira de ressuscitar os artigos de Weber por que então não tomar emprestado deste sociólogo a sua compreensão de sociedade e adaptar seus conceitos de  suas “ações individuais“  para a conclusão (tomara que não seja)  desta sociedade que seria no governo Marina;   Weber explicita que uma sociedade é compreendida a partir de quatro tipo de ações , a saber: primeira - ação tradicional - aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado. Correto. É muito difícil um congresso evangélico arraigado à sua cultura de salvação compactuar  com um deus-demoníaco chamado orixá do Candomblé;  segunda -  ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais  -  Correto, desde que não existam sentimentos homo afetivos para casamento ; terceira – ação  racional com relação a valores - determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade – essa ação está  perfeita – que diga o dízimo no cartão de crédito para o templo do Edir Macedo Salomão; quarta - ação racional com relação a fins –determinada pelo cálculo racional que coloca fins e organiza os meios necessários  - essa ação resumo tudo desde que você opta por seguir o Jesus dos evangélicos.
Enfim, dogmas à  parte,  sabemos que determinados estudos e teorias científicas caem por terra à medida que novas teorias vão desbancando a anterior através de novos parâmetros; e isso é válido também às teorias sociais; estas não são imutáveis como os arquétipos filosóficos. Podemos afirmar filosoficamente que  sociedades mudam, é só, mas em que circunstâncias, ou , em que situação, são outros “quinhentos”, e não apenas de anos. Algumas outras teorias permanecem válidas dentro de um contexto social ou quantificada como exemplo temos a física clássica newtoniana permanecendo ainda correta dentro dos seus limites e não sendo desbancada pela física relativística ou quântica, como muitos pensam; um carro andando dentro de condições normais a uma velocidade constante de 20 metros por segundo perfaz em uma hora um percurso de 72000 metros (acabei de fazer o cálculo); mas, esse tipo de raciocínio não é válido dentro de parâmetros sociais, como alguns estudiosos pretendiam  no campo sociológico.    
Que venha o pleito. Marina, consolidando teoricamente Max Weber, pautada ainda assim numa ética protestante deturpada, que esta  sirva como um  como parâmetro de desvio dos conceitos weberianos e destrone o todo de uma teoria magnífica, e que esta não instancie em realidade vindoura para este país. Espera-se que entre todas essas filosofias por trás destas teorias, que apenas Heráclito esteja certo no seu Panta rei, onde diz que tudo flui, e ninguém pode banhar-se duas vezes nas mesmas águas de um rio;  o  que foi muito bem musicado por Lulu Santos: “Nada do que foi será. De novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa. Tudo sempre passará. A vida vem em ondas. Como um mar...” . Que assim seja (sem um amém repetitivo) e que não possamos cair em um mar de incertezas por pelo menos quatro anos.



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