Artigo de Marco Cordovil (foto) Analista de Sistemas- EMATER-PA
"Onde estará o “princípio da imparcialidade em assunto religioso” , quando uma possível gestora da nação, segundo ela mesma, costuma amiúde consultar a Bíblia antes de qualquer decisão, à luz de sua “divina” interpretação e rotula os orixás (deuses do candomblé) de anjos do satanás , seguindo a linha de raciocínio de um dos seus principais mentores o pastor Malafaia ?"
O Brasil entrará
para o rol dos países capitalistas exacerbados dentro de uma “ética” protestante e deixará o
rigor do laicismo num eventual governo
de Marina Silva.
À beira
de uma possível governanta evangélica ressurge uma teoria muito bem argumentada
de Max weber (um dos fundadores da sociologia da era moderna) em seu livro “A Ética
Protestante e o Espirito do Capitalismo“, onde o pensador destaca o
protestantismo como umas das principais
causa do nascimento do capitalismo.
Weber
incisivamente aponta através de vários estudos que o capitalismo alastrou-se em
países onde se difundiu o protestantismo: “O
trabalho é uma vocação divina, a finalidade da vida” , enfatizava Weber em
seu livro esta máxima do protestantismo delineando-se como a ideia central de
suas premissas teóricas e destaca-se o dever profissional caracterizado como a
"ética social" da cultura capitalista.
Mas a “Ética” protestante com o
passar dos tempos mudou, e mudou radicalmente de tal forma que já não sabemos ter
esta ética como base, a moral enquanto conjuntos de preceitos e costumes de uma
sociedade. “premissas de costumes O cumprimento das tarefas seculares sob quaisquer
circunstâncias é o único caminho para satisfazer a Deus, que isto, somente
isto, é a vontade de Deus, e que, por isso qualquer vocação lícita tem o mesmo
valor perante os olhos de Deus(WEBER, 2001, p.44); eis o que era a ética para
Weber no bojo de seus dois artigos que compõe seu livro, antes da era dos
pastores eletrônicos e suas diversas redes de televisão pelo mundo afora.
A ética, lastro da postura
luterana como base do crescimento capitalista, começa a denegrir-se com o que conhecemos por “Estado
Laico”, onde um país adquire uma posição
neutra relativo a princípios religiosos e como consequência não deve apoiar ou
discriminar qualquer religião ou manifesto religioso devendo ser totalmente
imparcial. Mas, não obstante a este princípio, creio que um “Estado
Protestante”, de certa fora me dá arrepios num cenário hoje em que o Brasil
vive essa avalanche evangélica com seus suntuosos “Templos de Salomão” e suas
inumeráveis maquininhas de cartão de crédito a pedir o dízimo - que passará dos 10% dos salários dos
incautos, caso o fiel atrase fatura do pagamento.
As implicâncias serão deveras
em todo âmbito sócio-religioso numa liderança evangélica e num atual crescente
congresso luterano. Causas justas e dignas já avançadas em ganhos sociais através
de lutas seculares por uma nova versão da humanidade encontrarão barreiras
políticas. Promiscuirão cinismos em nome do “Senhor” - pobre Jesus – onde
“religiões de demônios“ como umbanda,
candomblé, espiritismo e outras similares serão alvos de falsos moralistas. A
discriminação relativa aos umbandistas remonta aos tempos das senzalas, épocas
onde o negro (para o branco) sequer tinha alma, e seus orixás, óbvio, só
poderiam ser parte do satã. Onde estará
o “princípio da imparcialidade em assunto religioso” , quando uma possível
gestora da nação, segundo ela mesma, costuma amiúde consultar a Bíblia antes de
qualquer decisão, à luz de sua “divina” interpretação e rotula os orixás (deuses do candomblé) de anjos do satanás , seguindo a linha de
raciocínio de um dos seus principais mentores o pastor Malafaia ?
O que esperar dos direitos
humanos quando instituições que deveriam ser sérias como por exemplo a Comissão
de Direitos Humanos e Minorias” (CDHM) da Câmara dos Deputados, presidida por um
deputado Marco Feliciano , pastor homofóbico
da pior espécie (PSC-SP), extirpou o que é de direito humano, quando destacou o projeto que determina que as igrejas possam
se recusar a realizar casamentos de pessoas do mesmo sexo porque violam seus “valores, doutrinas ou crenças“ dentro de seus próprios conceitos
discriminatórios. Este projeto,
segundo me consta, seria estendido também a rejeitar aqueles que desrespeitam o
ambiente religioso isto dentro de um estado que apregoa teoricamente a imparcialidade em assuntos religiosos. A ética desde os primórdios baseia-se
na moral, este cristalizando-se em valores e costumes sociais, mas, a despeito do
mesmo, Marina Silva, quando
questionada em programa jornalístico da
Globo, a respeito do seu programa de governo homofóbico, não apenas foi antiética como saiu-se também
pela tangente quase que literalmente, tocando apenas em um ponto: sou a favor
da união civil , casamento não. Os dois pontos para elas são auto excludentes;
na verdade, orientada por Malafaia, tentou agradar a gregos e troianos; ou
seja, evangélicos puritanos e os
homossexuais.
Espera-se, além desses anacronismos
sociais, um espetacular capitalismo exacerbado, já preconizado nos estudos weberianos; assim, temo,
que logrem proveitos de quaisquer
políticas públicas sociais já implantadas em governos anteriores, algo similar
a dízimos para se “ganhar o céu”. O fato
que me apavora é que cientificamente Max
Weber está certo; o tempo presente , o
nosso eterno tempo presente , está corroborando suas assertivas do seu livro. Weber cita: “o
fato que os homens de negócios e donos do capital, assim como os trabalhadores
mais especializados e o pessoal mais habilitado técnica e comercialmente
das modernas empresas é
predominantemente protestante.” , este fato vem se consolidando cada vez
mais. Donos de redes de comunicação entre países capitalistas estão aí aos
montes, difundindo cada vez mais o “trabalho divino vocacional”, valendo-se
ressaltar que os dois artigos que compõe este livro são
datados de 1904. Weber além de sociólogo, era a meu ver, um profeta, e dos
grandes, deixando-se invejar por outros pensadores que se tornaram anacrônicos
dentro de uma sociedade da “era da informação” e suas redes sociais. Quem poderia
dizer que sem o uso extremo da “mais valia” Mark Zuckerberg ficaria Bilionário em curtíssimo espaço de tempo, somente exibindo, como
ele mesmo diria “Os peitões das estudantes de Harvard”, criando assim o seu Facebook.
Mas no
tange a ética deste tipo de capitalismo que vem insurgindo como um dos
prováveis futuros de deste país - mesclado em todos os sentidos -, eu não a vejo como moral em dízimos vultosos construindo templo
milionários em “nome do senhor” ; não vejo ética em promessas fantasiosas
incrustando o medo do capeta no
fiel. Lutero se voltasse hoje e visitasse o “Templo do Edir Macedo
Salomão ” de 680 milhões de reais, com certeza pregaria em suas caríssimas
portas, novamente as suas 95 teses contra as neo-indulgências da “salvação”
como assim o fez em 1517 na igreja de Wittemberg contra abusos capitais da
igreja católica.
E por
falar em cifras, vejo como pertinente, pensar e repensar sobejamente com
extrema cautela e complexidade que o assunto exige, para nós, maioria, humildes
simplórios brasileiros, que precariamente entendemos de macroeconomia, e, sem querer me
entrosar tecnicamente em assunto desta
natureza e já entrosando-me em pavor (junto com alguns mais notáveis
economistas do país) - desejaria
saber o porquê que um Governo Marina se assim estabelecido,
deseja ter um Banco Central independente
, à maneira do Estados Unidos - país
evangélico - ? Uma coisa é certa e
histórica; enquanto brasileiros que somos, não temos mais vocações para ter
mudanças abruptas no diz respeito à economia, vale lembrar o transtorno que o seqüestro
da poupança na era Collor provocou no país.
É difícil saber os meandros que uma economia arraigava que um governo
luterano pode tomar, mas já que estamos
à beira de ressuscitar os artigos de Weber por que então não tomar
emprestado deste sociólogo a sua compreensão de sociedade e adaptar seus
conceitos de suas “ações individuais“ para a conclusão (tomara que não seja) desta sociedade que seria no governo Marina; Weber
explicita que uma sociedade é compreendida a
partir de quatro tipo de ações , a saber: primeira - ação tradicional - aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado. Correto. É
muito difícil um congresso evangélico arraigado à sua cultura de salvação compactuar
com um deus-demoníaco chamado orixá do
Candomblé; segunda - ação
afetiva: aquela determinada por afetos ou estados
sentimentais - Correto, desde que não existam sentimentos
homo afetivos para casamento ; terceira
– ação racional com relação a valores - determinada
pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do
êxito desse valor na realidade – essa ação está perfeita – que diga o dízimo no cartão de
crédito para o templo do Edir Macedo Salomão; quarta - ação racional com relação a fins –determinada pelo cálculo racional que coloca fins
e organiza os meios necessários - essa
ação resumo tudo desde que você opta por seguir o Jesus dos evangélicos.
Enfim,
dogmas à parte, sabemos que determinados estudos e teorias
científicas caem por terra à medida que novas teorias vão desbancando a
anterior através de novos parâmetros; e isso é válido também às teorias
sociais; estas não são imutáveis como os arquétipos filosóficos. Podemos
afirmar filosoficamente que sociedades
mudam, é só, mas em que circunstâncias, ou , em que situação, são outros
“quinhentos”, e não apenas de anos. Algumas outras teorias permanecem válidas
dentro de um contexto social ou quantificada como exemplo temos a física
clássica newtoniana permanecendo ainda correta dentro dos seus limites e não
sendo desbancada pela física relativística ou quântica, como muitos pensam; um
carro andando dentro de condições normais a uma velocidade constante de 20
metros por segundo perfaz em uma hora um percurso de 72000 metros (acabei de
fazer o cálculo); mas, esse tipo de raciocínio não é válido dentro de
parâmetros sociais, como alguns estudiosos pretendiam no campo sociológico.
Que venha o pleito. Marina, consolidando teoricamente
Max Weber, pautada ainda assim numa ética protestante deturpada, que esta sirva como um
como parâmetro de desvio dos conceitos weberianos e destrone o todo de
uma teoria magnífica, e que esta não instancie em realidade vindoura para este
país. Espera-se que entre todas essas filosofias por trás destas teorias, que apenas
Heráclito esteja certo no seu Panta rei,
onde diz que tudo flui, e ninguém pode banhar-se duas vezes nas mesmas águas de
um rio; o que foi muito bem musicado por Lulu Santos: “Nada do que foi será. De novo do jeito que já foi um dia. Tudo
passa. Tudo sempre passará. A vida vem em ondas. Como um mar...” . Que
assim seja (sem um amém repetitivo) e que não possamos cair em um mar de
incertezas por pelo menos quatro anos.