segunda-feira, 4 de maio de 2015

Jornal sugere delator como culpado por Aécio não ser investigado por propinas em Furnas


Por Cíntia Alves via Jorna GGN
Folha diz que Alberto Youssef descumpriu acordo de delação premiada na Lava Jato ao não prover detalhes sobre a influência de Aécio em Furnas. Mas GGN mostrou que executivo da Camargo Corrêa foi citado no depoimento do doleiro como testemunha que poderia esclarecer pagamento de propinas ao PSDB 

Jornal GGN - A edição da Folha de S. Paulo desta segunda-feira (4) omitiu passagens da delação do doleiro Alberto Youssef que apontam testemunhas que poderiam colaborar com uma possível investigação sobre o suposto pagamento de propinas ao senador e presidente do PSDB Aécio Neves com recursos de Furnas. Mais do que isso: a conotação empregada pelo jornal na reportagem "Delatores da Lava Jato não contaram todo o prometido" tenta esvaziar o peso dos depoimentos e sugere que o delator descumpriu os termos do acordo de cooperação com a Lava Jato.
Segundo a Folha, ao final da fase de negociação dos acordos entre o Ministério Público Federal e os investigados, dois tipos de documentos foram produzidos: um apontando "todos os crimes sobre os quais os delatores iriam falar, com a indicação dos envolvidos", e outro que "formalizou as condições do acordo, como as penas dos delatores".
"Com os papéis assinados, os delatores começaram a depor para dar os detalhes sobre os crimes e os envolvidos. No caso da colaboração de Youssef", diz o jornal, "um dos capítulos tinha o título 'Furnas' e indicava que o doleiro revelaria envolvimento de Aécio."
"Quem era responsável por esse comissionamento eram as pessoas de José Janene [ex-deputado, morto em 2010, considerado operador do PP no esquema na Petrobras] e Aécio Neves. Toda e qualquer obra realizada em Furnas possuía comissionamento. Se especula que quem recebia por Aécio Neves era a pessoa de sua irmã", indicou Youssef.
A Folha minimizou a fala do doleiro argumentando que "ao detalhar esse fato à Força Tarefa da Lava Jato, Youssef afirmou apenas que o ex-deputado José Janene havia dito que Aécio dividia com ele propinas relativas a uma diretoria de Furnas. Não apontou, porém, fatos ou provas quanto à atuação do tucano em ilegalidades."
A PGR, para instaurar inquérito contra o senador Humberto Costa (PT), escreveu que tudo que foi dito por Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa [ex-diretor da Petrobras, também delator], até o momento, provou-se verdadeiro. Mas para arquivar investigação contra Aécio, a Procuradoria usou argumento oposto. Sustentou que não é possível dar seguimento a um inquérito com base em "ouvi dizer". A deputados petistas, Janot teria acrescentado que a morte de Janene seria outro impeditivo.
Uma testemunha do caso Furnas
Contudo, conforme o GGN publicou em 23 de maio, Alberto Youssef afirmou que ouviu de mais de uma fonte que o PSDB, durante os anos de FHC na presidência da República, dividia o balcão de negócios em Furnas com Janene. Aécio seria beneficiário desse esquema, sendo que uma de suas irmãs seria responsável pelos pagamentos feitos ao então deputado mineiro. Youssef não soube prover mais detalhes sobre isso.
O que Youssef disse e foi completamente ignorado pela mídia e pelas autoridades da Lava Jato é que João Auler, ex-presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa, teria condições de dar mais detalhes sobre a influência de Aécio e do PSDB em Furnas.
Consta na petição da PGR que resultou no arquivamento de inquérito contra Aécio [em anexo] que o doleiro presenciou uma reunião entre Janene e João Auler [grafado incorretamente no depoimento], cujo objetivo era cobrar propina na ordem de R$ 4 milhões, em 2002. Segundo Youssef, Auler teria dito a Janene que a Camargo Corrêa não efetuaria mais o pagamento porque alguém do PSDB já havia retirado o montante.

A Folha questinou o advogado Antonio Augusto Figueiredo Bastidos sobre Youssef não ter "correspondido ao prometido em relação aos supostos ilícitos em Furnas". O defensor explicou que "o que vale mesmo são os depoimentos depois da assinatura do acordo. Os anexos [documentos sobre os crimes a serem revelados pelos delatores] dos acordos são meros projetos, que podem dar certo ou errado. Além disso, a palavra do delator só tem validade se houver posterior comprovação por outros elementos no decorres das apurações."
Resta saber se o Ministério Público e a Polícia Federal vão colher a versão de João Auler sobre corrupção em Furnas. O executivo estava preso em Curitiba desde novembro de 2014, mas foi solto por decisão do Supremo Tribunal Federal, no final de abril. A defesa de Auler é uma das poucas na Lava Jato que resiste aos acordos de delação premiada.

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