sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Festa das "Bichitas" acontece amanhã no Bar do Parque

O evento acontece neste sábado, e  faz parte do calendário popular e cultural da parte "profana" do Círio de Nazaré, Quem organiza o evento  e o promoter Eloi Iglesias .  O nome do evento é  "Festa da Chiquita",  hoje é popularmente chamada de  "Festa das Bichitas" pelo  partiicipação da comunidade LGBT. (AD)


Via G1

Organização garante 'Festa da Chiquita' na véspera do Círio

Após dificuldades na captação de recursos, festa terá formato reduzido.
Evento ocorre há 37 anos na Praça da República

Alexandre YuriDo G1 ParáFACEBOOK
Eloi Iglesias comanda a Festa da Chiquita (Foto: Alexandre Yuri / G1)Eloi Iglesias comanda a Festa da Chiquita (Foto: Alexandre Yuri / G1)
A organização da Festa da Chiquita, um evento cultural que ocorre na Praça da República desde a década de 70, confirmou a realização da 37ª edição do evento no próximo sábado (10), na véspera do Círio de Nazaré - a comemoração estava ameaçada por falta de verbas. Segundo o organizador da festa, o cantor e produtor cultural Elói Iglesias, a celebração enfrenta grande resistência: é que a Chiquita, uma festa que tradicionalmente reúne o público alternativo, ocorre logo após a passagem dos peregrinos que seguem a imagem de Nossa Senhora na procissão da Trasladação, a segunda maior das romarias oficiais do Círio.

Para o organizador, a dificuldade para viabilizar a festa é provocada pelo preconceito, já que Chiquita tem um público majoritariamente formado por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). "Sabemos que a 'Chiquita' é complicada, por ser um evento polêmico. Não que a festa seja LGBT, mas o público LGBT tomou conta dessa festa por ser um público mais animado, que quer se libertar", disse.
O cantor utiliza figurinos extravagantes na Festa da Chiquita , como este de 2013 (Foto: Roberto do Vale / O Liberal)O cantor utiliza figurinos extravagantes na Festa da Chiquita , como este de 2013 (Foto: Roberto do Vale / O Liberal)
Segundo Elói, a principal mudança na 37ª edição da Chiquita será o tamanho: "Cortamos algumas bandas da programação, nossa equipe de segurança diminuiu um pouco. Vamos colocar DJ, anunciar a premiação (todo ano a festa premia personalidades de destaque para a comunidade LGBT) e encerrar. Está muito difícil para a gente, porque em outras épocas, quem queria subir no palco construía junto", conta Iglesias.
As pessoas acham que LGBT não pode ter fé, que a festa não pode ser uma homenagem. Todo ano as pessoas querem enfraquecer, já diminuíram o palco, já diminuíram o horário"
Elói Iglesias, cantor
Elói afirma que a festa, mesmo exaltando o lado profano, também tem caráter de homenagem. "É um direito que essa população (LGBT) tenha fé. Existe uma ditadura da fé, as pessoas acham que LGBT não pode ter fé, que a festa não pode ser uma homenagem. Todo ano as pessoas querem enfraquecer, já diminuíram o palco, já diminuíram o horário", lamenta.
Seguindo a determinação da Prefeitura deBelém para os eventos realizados em local aberto no período do Círio, a Festa da Chiquita tem até 1h da madrugada de domingo (11) para ser encerrada. Após o horário, a organização realiza uma sequência da festa em local fechado, em um bar no bairro da Cidade Velha.
Público costuma lotar a Praça da República para a Festa da Chiquita. (Foto: Henrique Felício/O Liberal)Elói diz que festa, que já lotou praça, terá dimensão menor em 2015 (Foto: Henrique Felício/O Liberal)
Financiamento coletivo
Para garantir a realização da Festa, uma campanha de financiamento coletivo foi organizada na internet para arrecadar fundos, mas não atingiu a verba necessária. "O financiamento coletivo é uma ideia nova, mas infelizmente, a gente tem um público que ainda está engatinhando nessas novas propostas de financiamento", diz Elói.
Iglesias defende a realização de mais eventos culturais no período do Círio para atrair turistas (Foto: Henrique Felício / O Liberal)Iglesias defende a realização de mais eventos
culturais no período do Círio para atrair turistas
(Foto: Henrique Felício / O Liberal)
Um dos apoiadores da campanha foi o publicitário José Calazans, que já participou de outros projetos de financiamento coletivo. "A cultura não pode mais acontecer apoiada via incentivo de governo ou de instituição pública, tem que acontecer a partir da iniciativa popular", afirma o publicitário.
Mesmo não sendo um frequentador da festa, Calazans reconhece a importância histórica da 'Chiquita'. "Independente de ser ou não uma festa profana, ser ou não uma festa LGBT, a Chiquita foi tomabada como patrimônio, não se discute mais esse ponto. A questão é: vamos nos unir para que ela possa acontecer ou vamos deixar que ela continue tombada e não ocorra mais?", questiona.
Patrimônio
Durante o processo de registro do Círio de Nazaré como patrimônio cultural imaterial brasileiro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) incluiu a "Festa da Chiquita" no inventário nacional de referências culturais como uma celebração ligada à festividade de Nazaré.
Para a quantidade de artistas que nós temos nesta terra, nós temos poucas manifestações. Ter só uma Feira do Miriti, um Arrastão do Pavulagem, um Auto do Círio e uma Festa da Chiquita é pouco, deveríamos ter milhões de arrastões, de festas. Deveríamos ter quinze dias de festas na cidade, porque a gente não consegue deixar o turista aqui nem três dias"
Elói Iglesias, cantor
O dossiê elaborado pelo IPHAN detalha a origem da festa em um bloco carnavalesco organizado por grupos de homossexuais e simpatizantes na década de 70. A partir de 1978, a festa passou a ser realizada na Praça da República na véspera do Círio. As referências ao Círio e a Nossa Senhora de Nazaré apresentam, segundo o dossiê, "um caráter de resistência, de contestação, de busca de espaço e reconhecimento social pelos homossexuais".
No entanto, o dossiê ressalta que a festa é repudiada pela Diretoria do Círio e pelas autoridades eclesiásticas. Para Elói, não há desrespeito por parte da organização do evento. "É uma manifestação cultural e está no registro do IPHAN. Nós não estamos na frente de uma Igreja, estamos na frente do Theatro da Paz e do Bar do Parque, que são ícones da cultura", disse.
Para o cantor, manifestações culturais locais podem contribuir para o turismo religioso na cidade. "Para a quantidade de artistas que nós temos nesta terra, nós temos poucas manifestações. Ter só uma Feira do Miriti, um Arrastão do Pavulagem, um Auto do Círio e uma Festa da Chiquita é pouco, deveríamos ter milhões de arrastões, de festas. Deveríamos ter quinze dias de festas na cidade, porque a gente não consegue deixar o turista aqui nem três dias", opina.

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