quinta-feira, 14 de abril de 2016

Tabuleiro do impeachment: a corrida por voto a voto de deputados



Jornal GGN - A cada minuto, partidos que não haviam se posicionado a favor ou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff vão assumindo as decisões. Tanto do lado do governo, como dos encabeçadores do processo, as negociações deixaram de ser entre bases aliadas e não aliadas, e passaram a disputar nome por nome dos 513 deputados federais da Câmara, para a votação que ocorrerá às 14h deste domingo (17).

Na contagem regressiva, em quatro dias, o Planalto precisa angariar 172 votos para barrar o impeachment. Por outro lado, os opositores necessitam de 342 deputados para o processo de afastamento da presidente chegar ao Senado Federal.

Os últimos anúncios de partidos foram contra a expectativa do governo: O PP, partido que reúne a quarta maior bancada da Câmara, com 47 deputados, declarou que é a favor do impeachment. A notícia caiu de surpresa. Após longa reunião de portas fechadas, a sigla voltou atrás em seu apoio à presidente, engrossando a defesa de sua saída.

Por outro lado, o partido que, pelo menos até a tarde desta quarta-feira (13), somava 13 de seus filiados contra o afastamento e dois indecisos, não fechou questão e, apesar da orientação, liberou seus deputados a votarem por critérios individuais. Entre os deputados que devem manter o voto favorável à Dilma estão Aguinaldo Ribeiro (PB) e Roberto Britto (BA), que integraram a Comissão Especial.

Nessa mesma linha defendeu o partido de Marina Silva, a Rede. A líder apoia a admissibilidade do impeachment, mas não necessariamente é uma orientação para os seus parlamentares, uma vez que dois dos deputados já se declararam contra o que chamaram de "golpe" - Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR).

Não foi igual a decisão do PRB. O partido se declarou a favor do impedimento de Dilma, mas, neste caso, fechou questão - o que significa que seus membros devem obedecer ao posicionamento. Além da mais nova bancada pró-impeachment, também fecharam questão o partido líder da oposição, o DEM, que tem 28 deputados, e o PPS, que somou 9 na votação.

Com isso, o PRB colocou ponto final nos 9 deputados indecisos da sigla, que eram disputados, um a um, pelos governistas. "Estava esperando a decisão do partido. Eles leram todo o parecer da comissão (especial de impeachment) e recomendaram o afastamento", disse o deputado Lindomar Garçon, que até ontem (12), apresentava-se como indefinido.

O ato de "fechar questão" é definido em Estatuto pelos partidos. Pressupõe que se um filiado não obedecer a postura decidida pela Executiva Nacional é considerado infidelidade ou indisciplina partidária, suscetível de punições, também definidas pelo regimento interno da sigla.

Em termos gerais, quando um partido "fecha questão" e um de seus membros não segue o estabelecido, se assim estiver no Estatuto, pode sofrer expulsão da legenda, o que acarreta, automaticamente, a perda de função ou cargo parlamentar, devido à proporção partidária, segundo a Lei dos Partidos Políticos. Em outras palavras, trata-se de uma ameaça legal.

Entenda mais sobre o regimento dos partidos políticos:



Mas ao passo que o Planalto perdeu o voto de bancadas inteiras, também obteve o apoio total do PDT. Nesta quarta-feira (13), a legenda que levará o ex-ministro Ciro Gomes à eleição presidencial de 2018 anunciou que é contra o impeachment. O partido já havia decidido o posicionamento em reunião do presidente nacional, Carlos Lupi, em janeiro, e trará seus 20 deputados contra o processo, a que chamam de "golpe" e "ofensa à democracia brasileira".

"Que fique público e notório que todos aqueles que não obedecerem a decisão do Diretório Nacional do PDT estarão sujeitos as sanções previstas no Estatuto", enfatizou o presidente da sigla, Carlos Lupi. "Não vamos sair do barco como se fôssemos ratos", disse hoje o líder na Câmara, Weverton Rocha (MA). "Quem faz parte da agremiação partidária e não acompanha a decisão é submetido a sanção. A bancada do PDT não apoiará o golpe e estará ao lado da democracia e da Constituição", completou.

Entre as punições previstas em seu Estatuto, o PDT pode emitir uma advertência, para casos de infrações primárias; uma intervenção, nos casos de divergências graves; e a dissolução do filiado, quando ocorrem violações do regimento do partido e o desrepeito à deliberação de órgão superior - o Diretório Nacional.

Na batalha dos partidos, o PMDB de Eduardo Cunha e Michel Temer - apontados pela presidente Dilma como o "chefe" e o "vice-chefe" conspiradores "do golpe, da farsa e da traição" - analisa se fechará ou não questão em favor do impeachment. Se a pressão, de um lado, vem do próprio presidente da Câmara, o líder Leonardo Picciani (RJ) integra a minoria de 7 deputados que são declaradamente contra.

Em disputa clara do voto a voto, por outro lado, a sigla é a segunda que mais deu votos em favor do impeachment, na Comissão Especial, perdendo apenas para o majoritário PSDB. Na votação desta segunda (11), Picciani liberou a bancada. Se a Executiva decidir fechar questão, afetará não apenas os deputados decididos, como também os ministros da presidente Dilma Rousseff, que decidiram nesta terça (12) votar contra o impedimento.

Seriam três votos em favor do governo: o ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e o ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes. "Decidimos que nós três que somos deputados vamos voltar para fazer a luta contra o impeachment na Câmara. E vamos encerrar o terceiro turno das eleições neste domingo. E vamos ganhar de novo, e só espero que respeitem o resultado", disse Pansera.

O resultado de pressões, negociações, incentivos e trocas de todos os tipos no jogo do impeachment é que o tabuleiro está desfavorável para a presidente Dilma: faltam 30* do total de 342 deputados para o processo seguir ao Senado Federal. Os dados, contudo, têm margens de erros. São 38 os indecisos e 38 os parlamentares que não responderam. Pela manutenção da democracia e da legitimidade do voto, são apenas 125 deputados da Câmara que decidirá as próximas partidas do país.


* O GGN analisou os dados do Mapa da Democracia, do Mapa do Impeachment do MBL e do Placar do Impeachment do Estadão. O levantamento mais atualizado e menos passível de erros foi o do Estadão, usado aqui como fonte de dados

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